Entre a bicicleta e a laranja
vai a distância de uma camisa branca
Entre o pássaro e a bandeira
vai a distância dum relógio solar
Entre a janela e o canto do lobo
vai a distância dum lago desesperado
Entre mim e a bola de bilhar
vai a distância dum sexo fulgurante
Qualquer pedaço de floresta ou tempestade
pode ser a distância
entre os teus braços fechados em si mesmos
e a noite encontrada para além do grito das panteras
qualquer grito de pantera
pode ser a distância
entre os teus passos
e o caminho em que eles se desfazem lentamente
Qualquer caminho
pode ser a distância
entre tu e eu
Qualquer distância
entre tu e eu
é a única e magnífica existência
do nosso amor que se devora sorrindo
Mário Henrique Leiria
1923: A 2 de Janeiro Mário-Henrique Leiria nasce em Lisboa. - 1942: É expulso, em Lisboa, da Escola Superior de Belas Artes, talvez por motivos políticos. - 1949/51: Participa nas movimentações surrealistas portuguesas, entre as quais a obra colectiva Afixação Proibida. - 1952/57: Vários empregos: Marinha Mercante, caixeiro viajante, operário metalúrgico, servente de pedreiro, etc... Viaja pela Europa ocidental e central, também pelo norte de África. - 1958: Visita a Inglaterra. - 1959: Casa, em Lisboa, com uma rapariga alemã; dois anos depois o casal irá separar-se. - 1961: “Operação Papagaio” e MHL é detido pela PIDE. Parte para o Brasil. - 1970: Regressa a Portugal. - 1973: Publica Contos do Gin-Tonic. - 1974: Publica Novos Contos do Gin. Revolução do 25 de Abril, em Portugal. - 1975: MHL é o chefe de Redacção de O COISO, suplemento semanal do diário A REPÚBLICA. Publica Imagem Devolvida, Conto de Natal para Crianças e Casos de Direito Galáctico seguido de O Mundo Inquietante de Josela (fragmentos). - 1976: Adere ao PRP (Partido Revolucionário do Proletariado) - 1979: Publica Lisboa ao voo do pássaro. - 1980: A 9 de Janeiro morre em Cascais (degenerescência óssea).
8 comentários:
Qualquer distância entre uma escolha e outra que é a mesma, uma fracção de segundo de um tempo voador.
Gostei muito de andar por aqui. Virei mais.
Su
realmente
ista
Margarida
Um blog de qualidade...um canto a visitar com assiduidade...
Obrigado por ter-me indicado este espaço especial.
Virei tomar um café em silêncio
nessas noites que se esqueceram de ter fim.
Obrigada pela visita ao meu "Ortografia". Gostei deste espaço. Virei mais vezes ler os nossos surrealistas. Um abraço.
Um lugar inovador e de regresso.
Onde os sonhos não devem ser esquecidos.
(obrigado pela visita ao Esquissos)
Cumprimentos,
fs
É um belíssimo poema!
Obrigada, Ricardo, estarei por aqui.
Um abraço,
Silvia
Passei para conhecer o blog e retribuir a visita.
Gostei do que vi e por isso vou voltar.
marinheiroaguadoce a navegar
o Mário Viegas é que chamava bastante a atenção para o génio do Mário-Henrique Leiria.
Que não é só (e já seria muitíssimo) o de "Contos do Gin-Tonic" e "Novos Contos do Gin".
Quanto ao poema...é música pura.
Dá para ouvir sem tentar perceber e depois saborear as palavras e as suas combinações.
Um fabuloso grito de amor à vida e à escrita.
Enviar um comentário