Aos amantes das belas letras
Faço chegar os meus melhores desejos,
Vou mudar o nome de algumas coisas.
A minha posição é esta:
O poeta não cumpre a sua palavra
Se não muda o nome das coisas.
Com que razão o sol
Há-de continuar a chamar-se sol?
Peço que se lhe chame Micifuz
O das botas de quarenta léguas!
Os meus sapatos parecem ataúdes?
Saibam que de hoje em diante
Os sapatos chamam-se ataúdes.
Comunique-se, anote-se e publique-se
Que os sapatos mudaram de nome:
A partir de agora chamam-se ataúdes.
Bom, a noite é larga,
Todo o poeta que se estime a si mesmo
Deve ter o seu próprio dicionário.
E antes que me esqueça
Ao próprio deus há que mudar o nome
Que cada qual o chame como quiser:
Esse é um problema pessoal.
Nacanor Parra
in Versos de Salón, 1962
Tradução de Henrique Fialho in DiVersos – Poesia e Tradução: N.º 12, coords. Jorge Vilhena Mesquita e José Carlos Marques, Dezembro de 2007, pp. 56-63.
2 comentários:
Ukulele para animar os realistas.
Ser diferente. Nem melhor, nem pior. Abraço!!!
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